Antes de trabalhar em navegao, sentia-me fascinado por navios. Pensar em ir a bordo me remetia a viagens para lugares distantes, exticos, cheios de mistrios e aventuras. Imaginava um capito uniformizado, camisa branca e chapu militar tpico, vrios gales no ombro marcando sua posio de autoridade.
Qual no foi minha decepo ao subir no primeiro navio e ver uma realidade diferente! Comandante grego, camisa suada semiaberta mostrando o peito, barba por fazer, sem nenhuma formalidade. Estava mais para pirata do que o glamour que eu imaginava. Havia alguns armadores cuja tripulao tinha realmente uniforme, mas no era a maioria. Glamour, mesmo, s em navio de passageiro.
Com o tempo, perdi aquele encanto de garoto e vi que martimos so pessoas comuns desempenhando mais uma profisso. E mais: navio se tornou uma trivialidade para mim. As pessoas falavam Uau, voc visitador de navios! Deve ser demais!. Achavam que minha vida era chegar a bordo, fazer uma visita cordial ao comandante, perguntar sobre a famlia, jogar conversa fora, tudo regado com whiskey, vinho, vodka e delicatssens.
Mal sabiam que o que a gente mais desejava era ver o navio pelas costas… Por que isso? Porque navio demorando no porto sinal de problema…. Porque o objetivo tanto de armadores como afretadores, para os quais eu trabalhava, fazer com que o navio chegue, opere e saia o mais rpido possvel. Navio parado como taxi no ponto ou Uber sem viagem. No faz dinheiro. O que o motorista quer fazer o mximo de viagens por dia, pois ganha por viagem.
Por isso, diferentemente de um afretamento em Time Charter, que por perodo, no Voyage Charter h penalidades impostas pelo armador se o afretador no terminar as operaes dentro do tempo permitido, o tal laytime. E se navio exceder esse tempo, entra em sobrestadia, o indesejvel Demurrage. O fato que, assim como Uber ou taxi, em Voyage Charter os armadores precisam fazer o mximo de viagens por ano, pois ganham por quantidade de carga carregada. Era uma briga de foice entre agentes na reunio diria de atracao das Docas para que seu navio chegasse e atracasse primeiro, saindo o mais rpido possvel.
A verdade, ento, que cheguei a um ponto em que o que mais queria mesmo era ver o navio pelas costas!
por: Roberto Brando |Consultor na TAP CONSULTING
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